Metafísica, Política, Humanismo, Filosofia geral e outras questões
Sínteses das realizações d'alguns questionadores...

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Do Universo


"O Universo é pois um único, infinito imóvel...
Não é gerado, pois outro ser não há que o possa desejar ou esperar; ele mesmo possui o ser.
E não perece, pois não há outro no qual possa transformar-se; ele mesmo é tudo. 
Perguntar-me-eis: então por que se modificam as coisas? 
...E eu respondo dizendo que qualquer transformação tende, não para outro ser, mas para outro modo de ser."

Giordano Bruno


Ante este interessante fragmento de Bruno, só me deparo com uma única objeção em mim. Penso que o Universo não é imóvel, mas é ele o movimento.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Do risco da evolução inconsciente


“Conta-se que um aldeão, que viera descalço para a capital, aí ganhou um par de vinténs, e depois de comprar meias e sapatos, o que lhe sobrou ainda deu para se embriagar. Conta a história que então, embriagado e querendo regressar à terra, caiu no meio da estrada e adormeceu. Aconteceu passar um carro e o cocheiro gritou-lhe que se desviasse para não ficar com as pernas esmagadas. Então o nosso bêbado acorda, olha as suas pernas e, não as reconhecendo, exclama: ‘podes passar por cima, que não são minhas’.”


Retirado da Obra "Desespero Humano", de Sören Kierkegäard

domingo, 3 de abril de 2011

A Guerra , a Ética e o Governante

Certa vez, conversava um poderoso governante chinês com o lendário sábio, Confúcio.

Disse o governante:
    — Meu povo, o povo desta nação, vive para ela, para defendê-la, e não deixaria de morrer por ela. Ser um soldado, matar e morrer pela nação é cívico, é da maior honra.

O sábio então falou:
    — Pois então, sendo vós entre os homens, dos mais patriotas, tanto que governa uma nação, deve mesmo sentir orgulho de estar entre os  primeiros a servir nas guerras, matando e morrendo pelo que tanto dizeis defender. Imagino que carregue em si profundas e inúmeras marcas, dos tantos confrontos que lhe tenham feito brilhar nos campos de batalha. Estou certo?

Como que atingido por uma ofensa, sem hesitar pronunciou o governante:
    — Eu não vou ao campo de batalha para pegar em armas e matar, pois o exército e o povo dependem de minha inteligência para liderá-los. Seria egoísta e orgulhoso de minha parte buscar o clamor das vitórias no campo. Desejo apenas o reconhecimento de minha boa liderança, e quando a vitória vem, me alegro com a gratidão que me dirige meu povo, que foi lá e lutou em nome da nação.

O sábio, sem mudar sua postura, encaminhou-lhe então, após alguns profundos segundos, a pergunta:
    — As suas palavras a princípio faziam crer que cultuava, devotamente, o civismo, com elas tentou fazer-me ver que a guerra é o ápice do civismo. Mas você mesmo, pelo que me diz, ainda não submeteu-se à essa expressão máxima de amor à pátria... me responda: que falta a um homem de tanto prestígio, escolhido pelo povo e imagem do culto à nação, para que seu civismo não limite-se à retórica?

Nesse momento, cessaram ambos a fala. Não estavam mais ali, nem um, nem outro. E Confúcio, como se dispusesse duma distinta liberdade para transitar entre o abismo de Silêncio no qual emergiram, e a sonoridade harmoniosa da natureza daquele lugar, voltou seu olhar à alma do líder nacional, e serena mas firmemente dirigiu-lhe as seguintes palavras:

    — Tu impões aos demais o que jamais desejarias submeter a tua vontade.

O governador, sem solo, viu-se ante um tirano: viu-se!

Acabara de descobrir que era ele mesmo aquele a quem menos desejaria deixar-se conduzir. Era ele o ultimo homem que escolheria para liderar uma nação, pois sob a vontade daquele tirano havia a morte dos que, ingenuamente, nela confiavam.

O sábio mestre, retirando o olhar da alma daquele homem, voltou a perder-se nas montanhas e não mais informou-se a respeito do governante. Estava certo, ao partir, que havia dado àquele homem de política a oportunidade de se ver sob as consequências do próprio governo, de se ver como um homem do povo, o governado, o soldado, que deixa a sua família, e com fé na nação desgraça família de outrem.

Alguns anos após esta conversa o político fora afastado da esfera pública, à qual jamais voltaria a fazer parte. Nos assuntos públicos sua palavra perdera todo valor de outrora.

Lhe caiu tal desprestígio por conta do que ele passou a defender, cada vez mais, a partir daquele encontro com o ancião. Ele defendia a Ética como forma de conquista prioritária e alternativa à Guerra. Para ele "Um povo tem, definitivamente, a vitória sobre outro a medida que mais justo seja o seu governo, a medida que mais felizes sejam seus cidadãos".

Infelizmente só quando distanciou-se do poder que passou a aspirar os dias em que corridas armamentistas já não existiriam, suplantadas pela corrida humanista. E foi esse então, o único sentido que ele passou a ver para as disputas entre povos.

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