Metafísica, Política, Humanismo, Filosofia geral e outras questões
Sínteses das realizações d'alguns questionadores...

domingo, 24 de outubro de 2010

Um ensaio sobre a política nas bases

Bases...
Do que seriam essas bases?
Que bases seriam essas?
Questões que necessariamente precisam de resposta antes de uma abordagem sobre o assunto proposto. Esforcemos-nos, então, por entendê-las e por ventura respondê-las.


Das bases de uma sociedade

Faz parte da constituição de uma sociedade a cultura, e se constitui essa de seres que criam, expurgam ou reproduzem pensamentos. Seres formam-se, em suas bases (ou na ausência delas) intelectuais, morais, e de aspirações éticas desde praticamente suas concepções, e o quão próximos estejam desta (ou seja, o quão mais novos sejam) mais sujeitos estão naturalmente a interferências alheias em suas formações (por motivos já esboçados no post O Medo como Força mental (Primeira Parte)). Em especial é fácil notar que são esses períodos iniciais que marcam no ser aquelas das mais profundas impressões que carregará este por praticamente toda a vida, só promovendo grandes mudanças em seus conceitos em ocasião de considerável impacto (certas vivências, pessoas que por ventura venha a conhecer, conhecimentos que receba ou mesmo entendimentos que alcance por próprio esforço em sua reflexão). Muitos concluiriam que é óbvio que, então, ninguém jamais permanecerá com aqueles conceitos provenientes daquelas impressões dos primeiros anos de vida, visto que, é fácil admitir que praticamente todos conhecem outras pessoas e têm contato com conhecimentos durante suas vidas, mas, seria leviana tal conclusão sob a perspectiva que nos mostra que a maior parte das pessoas pensa de forma muito semelhante, e isso porque foram e são criadas de forma semelhante, todas sob o teto da cultura e moral de seu povo ou tempo, e muitas, elos nas correntes de tradição a que seu povo pertence.


“Planejadamente” pôs-se em paralelo a essa etapa que é a infância e às etapas posteriores, a pré-adolescência e a adolescência, o serviço de educação escolar, promovido por instituições competentes e financiado pelo povo como um todo (através do recolhimento de impostos promovido pelo Estado) ou diretamente pelos “responsáveis” ao ser em formação; respectivamente os colégios públicos e privados. Então o ser em idades formativas conta não só com seus pais, familiares e ocasionalmente vizinhos (além da mídia) como agentes inculcadores de conceitos, mas com tais instituições que reúnem pessoas diferentes e necessariamente faz com que os conceitos se cruzem, permitindo ao ser transcender alguns dos preconceitos familiares ou dos arredores de sua morada. É este o potencial direto da escola como agente socializadora, e são nessas pequenas misturas de pessoas, teoricamente, diferentes promovidas nos ambientes escolares que brilha, mesmo que por hora não muito, a possibilidade de mudança e superação considerando a união de seres individuais. Havia dito “teoricamente”, considerando que pensamentos de massa podem agir por exemplo em formas que vão desde meras modas a assustadores fanatismos, levando grupos inteiros a assumirem personalidades tão semelhantes que nos põe realmente em dúvida, em nossas análises, a diferença que haveria entre estes.


Estando as tenras idades dentre as épocas que mais influenciam sobre as bases conceituais (incluamos moral e aspirações éticas nestas) do ser; sendo as instituições de educação escolar paralelas a estas exercendo grande influência nestas; sendo os seres os mantenedores da cultura, e sendo esta junto aos seres o que constitui uma sociedade, então, temos as instituições escolares exercendo grande influência nas bases da sociedade, isso se não colocar-mos-na como uma base mesma das sociedades atuais.


Compêndio sobre a origem da escola

Desde a antiguidade, quando se começa transmitir abertamente o conhecimento, inicialmente em praças públicas, especialmente com os gregos, a instituição escolar vem ganhando cada vez maior importância no seio da humanidade. Dentre os grandes saltos na história da escola está o que se promoveu na idade média, disparado pelo rei, e posteriormente imperador, Carlos Magno (mais conhecido pela restauração do Império Romano Ocidental), e em grande parte influenciado também pela da Igreja, que em seu plano de conquista e expansão defendia que “(...)é preciso estudar a Bíblia para chegar a Deus, e as palavras da liturgia não toleram imprecisão. Cabe à Igreja atrair fiéis, que devem conhecer as preces e os preceitos”. 


Estas escolas medievais são iniciadas nos monastérios beneditinos e expandem-se posteriormente às cidades,  dirigidas estas últimas por eclesiásticos dependentes diretamente dos bispos. Tais eclesiásticos eram denominados Officium Scholasticus, título dado a um mestre da ciência e cultura medieval encarregado de transmiti-las, ou a alguém que se propunha à tentativa de resolver os problemas relacionados a fé e razão. Por tal, tais escolas difusoras do pensamento medieval ficaram conhecidas como Escolástica. Na escolástica preserváva-se a difusão das sete artes liberais propostas no plano de Carlos Magno e seu conselheiro, o monge beneditino Alcuíno de York. Eram estas artes dividas em dois grupos: o Trivium (gramática, lógica e retórica) e o Quadrivium (aritmética, geometria, astronomia, e a música).


Naturalmente a política de Carlos Magno, que promoveu a primeira considerável expansão escolar, focou antes de tudo os interesses deste governante: unificar e fortalecer o seu império através da educação — realmente um nobre interesse, temos que admitir. Obviamente, assim como o nascimento das grandes instituições de ensino escolar, o futuro, a manutenção e a construção de novas escolas ficariam a cargo dos governantes de cada época, e a política continuaria então sendo uma camada gerenciadora dos colégios, convencionando o currículo destes — delimitando mínimos e máximos no exposto aos estudantes —; cada governante em seu reino, império ou posteriormente nação.



Compêndio sobre política e o que há de comum no seu emprego nesta e noutras épocas

Política é o nome dado à ciência da organização do povo.
Entre os muitos fatores que a originaram se encontra a necessidade administrativa correspondente ao advento da pólis, a cidade-estado, na Grécia Clássica.


Desde seu advento a política, como as outras ciências, passou por grandes mudanças, e não foram poucos os momentos de grande sofrimento os passados pela humanidade em diversos povos, causados pelos experimentos políticos que haveriam de ser promovidos por seus líderes em diversos momentos históricos. Entre as medidas mais tomadas por líderes políticos durante a história, encontramos as guerras.


Talvez por ser uma das ferramentas de controle, conquista, enfim, alcance de objetivos mais antigas, remontando-nos às lutas na própria vida, entre espécies ou grupos de uma mesma espécie, a guerra seja nos experimentos políticos um dos utensílios mais usados. Na verdade, se bem analisar-mos, vemos que as guerras são as decisões políticas mais covardes, porém é de se considerar que não há alternativa entre líderes que não vêem além da própria covardia, indiferença e egoísmo. Não seria uma atitude realmente digna de um líder promover algo que o povo tutelado não tivesse condição de promover? Se não, o que então faz este governante merecer o olhar de respeito por sua liderança, visto que não faz nada além do que alguns no seu povo também não fariam?


Retalhar não é o que faz um brutamontes quando não concorda? Então porque este também não tem um povo aos seus pés, bancando-lhe?
A diferença entre estes brutamontes, o líder e o liderado, é que o primeiro é custeado a ponto de poder retalhar quem discorda de uma forma muito mais ampla, movendo até a ciência na construção dos engenhosos brinquedos usados na coerção, no ferimento e no assassinato de milhares, assumindo assim também uma alta capacidade de subjugar povos inteiros a seus interesses, que são os do inculto liderado elevados a enésima potência. Ainda estamos pra ver um mecanismo mais bárbaro e simplório de liderança. Assim “liderar” fica mais fácil; e o melhor: há eficácia no atendimento do querer que é praticamente despótico.


Mesmo assim, entendo que muitos dirão que a selvageria dos povos é quem requer selvageria dos governos; mas quem tem a batuta que rege a administração educacional que haveria de enobrecer os povos? Ou ainda há dúvida quanto ao potencial enobrecedor das escolas, mesmo após analisarmos as instituições de ensino, em especial a escola, como elemento de excepcional influência nas bases formativas da sociedade¹? É evidente que a manutenção da identidade de um povo é promovida pela educação (novamente, em especial, a escolar), que mantém viva a alma de uma sociedade. Análogo ao que expôs Émile Durkheim, um dos pioneiros da Sociologia, as instituições de ensino também, mais do que formadoras da sociedade, são produtos dela.


Tendo visto o poder transformador (ainda pouco usado) que tem a política com as instituições de ensino e, em contrapartida, a baixeza que essa mesma política do zeitgeist mantém ao empregar o arcaico mecanismo da guerra (agora não mais uma premência natural, e sim, como temos visto, um interesse e ainda mais, uma necessidade corporocrática), analisemos a razão da política empregada neste e noutros tempos, o que deveria ser óbvio, para então, em seguida, entendermos mais acertadamente as causas mais evidentes de não termos ainda em nossas salas de aula o estudo da ciência política:


A política praticada é exercida por poucos e para poucos, à maioria restando o discurso político do bem comum, que logicamente não prioriza as dimensões do indivíduo (sendo estas, quando enveredadas por alguns do povo, por inofensivos e incontroláveis "acidentes") mas constroe sobre este um modelo social e cultural implantado e mantido pela educação que por sua vez é implantada e mantida por aquela elite governante.


Esboço de uma proposta à educação política

Em 24 de abril de 1962, pouco antes do golpe militar, no Brasil de João Goulart e do primeiro-ministro Tancredo Neves, o Ministério da Educação e Cultura, entre as diversas disciplinas do currículo recém elaborado, oferecia entre as disciplinas obrigatórias uma disciplina chamada Organização Social e Política Brasileira (OSPB).


No artigo do conselheiro Newton Sucupira podemos notar um pouco do clima em torno de tal acontecimento:


Ela tem como finalidade proporcionar ao aluno uma idéia adequada da realidade sócio-cultural brasileira em sua forma e ingredientes básicos. Deverá, pois apresentar o quadro geral das instituições da sociedade brasileira, sua natureza, formação e caráter, bem como as formas de vida e costumes que definem o modo de ser específico e a fisionomia característica de nossa cultura. Será além disso, um estudo da organização do Estado brasileiro, da Constituição, dos poderes da República, do mecanismo jurídico e administrativo em suas linhas gerais, dos processos democráticos, dos direitos políticos, dos deveres do
cidadão, suas obrigações civis e militares.


De acordo com o Decreto de Lei 869/68, passa a ser obrigatória no currículo escolar a OSPB assim como a EMC (Educação Moral e Cívica), em substituição as disciplinas Filosofia e Sociologia. Neste contexto o ensino focava os fatos em detrimento da reflexão e da análise. Além disso existem aqueles que o digam que a ideologia patriota e o civismo pervertido que impregnava aqueles anos eram difundos aos alunos por tais disciplinas. Foi por entre essas e outras coisas que em 1996, estabelecida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que pelos Parâmetros Curriculares Nacionais condenou-se as duas disciplinas por estarem embebidas de um “caráter negativo de doutrinação”, assim, se extinguindo ambas do currículo escolar. Muitos estudiosos consideram não menos que radical tal atitude, pois viam a possibilidade de manter essas disciplinas excluindo-se delas o caráter ideológico que animou a ditadura.


Vemos então que já implementou-se disciplinas de caráter político e cívico em instituições de ensino brasileiras, porém, ficou evidente o interesse político da época que justificou a adoção de tal medida? Ficou evidente também o motivo pelo qual aboliu-se após alguns anos de termino da ditadura estas disciplinas ao invés de simplesmente adaptá-las à mudança governamental?


Evidente que se o povo entende de civismo e política passa a observar melhor o que se passa na esfera política de seu país e consequentemente passa a exigir mais, porém, se é possível ganhar mais e com menor dificuldade além de ter menos preocupações com a contenção/manipulação de mais cabeças em sua maioria não pensantes, porque realmente, sendo um governante, se manteria e atualizaria tais disciplinas?


O escritor baiano Irineu Tolentino, considerando a globalização, propõe não só o retorno de disciplinas deste tipo, como também uma atualização inclusive no escopo destas. Propõe que não só retorne-se às escolas a OSPB mas sim que esta transforme-se em OSPM: Organização Social e Política Mundial.


Penso que o estudo da Ciência Política nos colégios deve ser levado a cabo, e ao contrário do que aconteceu em 1962, onde exclui-se a Filosofia e a Sociologia dos colégios para a implementação do novo currículo, um currículo novo deve não só manter mas também aproximar ainda mais estas disciplinas que podem avaliar tão bem e diversificadamente as facetas da política, juntamente com a análise histórica e geográfica que já vem sendo feita pelas respectivas disciplinas.


Há ainda muito o que se discutir porém sempre estamos atrasados quando o assunto é formação do povo e superação da ignorância reinante.


Obstáculos à prática da educação política

Resolvamos os problemas:
"Panem et circenses" !
Como vimos a escola é formadora ao mesmo tempo que é formada pela sociedade; o contexto histórico e logicamente cultural desta [sociedade] envolve a escola. Então vejamos: se o sistema econômico de um povo ou o predominante numa época influi diretamente nos hábitos, nas vivências individuais, no convívio, na moral, enfim, em toda uma cultura e sociedade então este influi também nas instituições de ensino, óbvio, inclusive adaptando-se estas às necessidades deste sistema. Olhemos então para o nosso sistema e vejamos se não é uma das maiores de suas necessidades o trabalhador, o operário, a mão-de-obra, que produz, no chão das fábricas ou nas grandes construções o lucro, e com menor premência, seguidos pelos que se preparam para o setor terciário, assim como os que liderarão nas esferas científicas os avanços necessários para a perpetuação dos mecanismos de manutenção (lucro) do sistema. São os trabalhadores e os consumidores as colunas do sistema em voga, e por tal, obviamente nada sob o sistema pode apontar a quebra destas colunas. "Não é bom que nenhuma escola nem nada na mídia incite o não consumismo e a não servidão." Não é difícil  ver os interesses corporocráticos enfluenciando as escolas, o que seria mais um elemento justificador do não ensino político nestas. Considerando a escola, sociologicamente, como um agente propagador de uma sociedade no tempo, então não cabe a ela, em primeira instância, ferir o estabelecimento (ou sistema, como preferirem alguns). Como o governo e a política praticada logicamente fazem parte deste estabelecimento, então não ser “prejudicial” ao governo é requisito nas instituições de ensino, que antes de tudo também são dependentes dele.

Há nas sociedades de hoje, assim como houveram noutras doutros tempos, um arquétipo piramidal que ainda evidencia desigualdade e mais ainda, servidão, tão desnecessária quanto obviamente injusta, visto que não é mais difícil e economicamente inviável sanar a fome alimentícia e de saber de um povo, que enviar homens em viagens para além da atmosfera terrestre.


Fica evidente que a principio não será disciplina escolar a Ciência Política, pelo menos não com a imparcialidade e a fomentação da visão crítica necessária, pois do contrário, aumentariam óbvia e consideravelmente os que a entenderiam, e seria evidente, pois, que o povo constataria que não é governado como merece e deveria ser.




Algumas indicações:
http://www.eusou.com/premium/cronicas.asp?det=1648
http://secbahia.blogspot.com/2009/03/organizacao-social-e-politica-do-brasil.html
http://serpente-do-eden.blogspot.com/2010/10/um-breve-discurso-sobre-o-voto.html
http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=1034475&tit=O-ensino-da-poli
http://folhadeabaetetuba.blogspot.com/2009/03/teoria-da-piramide-politica.html
http://flageloromano.wordpress.com/2010/06/04/tiberio-e-caio-graco-e-a-justica-solitaria/

1.Como foi visto, neste texto, em Das bases de uma sociedade

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